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sexta-feira, 6 de março de 2015

Ideias no deserto



De onde surgem as ideias?

De certa forma, elas nos acompanham desde a concepção até o dia em que morremos. Passamos a existir no momento em que as pessoas tomam conhecimento da nossa presença. O mesmo ocorre com as ideias. Elas surgem de um momento para o outro e tudo muda repentinamente. Uma alavanca gira e os pensamentos correm desenfreados, sem parar. Porque esse é um detalhe interessante sobre as ideias. Elas nunca chegam desacompanhadas.



Em maio de 2013, realizei um sonho muito antigo. Uma ideia que herdei de meu pai na minha adolescência. Fazer um mochilão para conhecer Machu Picchu, no Peru. Após anos tentando convencer alguém a me acompanhar, acabei embarcando nessa sozinho. E foi uma das melhores e mais intensas experiências pela qual já passei. Entreguei meu destino para a estrada e a estrada me mostrou os caminhos, me apresentou as pessoas e abriu meus olhos para um mundo com o qual eu só sonhava até então.

Minha viagem também não se restringiu à cidade sagrada dos Incas. Ela foi só o ponto de partida. Entre os lugares que me propus a conhecer estava o Colca del Canyon, próximo a Arequipa, onde o voo dos condores atraem milhares de pessoas por ano. Após Machu Picchu, essa era a minha próxima parada. Levaria três dias e exigiria três viagens longas de ônibus para chegar lá. Talvez isso desestimulasse outras pessoas, mas, no meu caso, não vi nenhum problema. Eu estava apaixonado pela liberdade que só os mochileiros conhecem.



No meio do caminho, o ônibus fez uma de suas muitas paradas em uma paisagem desolada, pontuada por montanhas distantes e um deserto a perder de vista. Era o ponto mais alto da jornada, a 4.910 metros acima do nível do mar. Ali, encontravam-se uma série de pequenas pirâmides de pedras, montadas por viajantes anteriores. O guia nos explicou que as pedras representavam os desejos de outros peregrinos, sonhos e esperanças empilhados em corredores improvisados pela planície. 

Ao caminhar por aquela catedral a céu aberto, envolvido pelo silêncio do deserto, impressionado com a beleza natural de sua vastidão, deixei meus pensamentos correrem soltos. Outros turistas fizeram suas mini pirâmides. Deixaram seus desejos ali. Os meus eu joguei ao ar. Não preciso de representações físicas para segurá-los. E me perguntei: será dessa maneira que um lugar se torna sagrado?

Foi um momento especial, que durou pouco. Logo, estávamos de volta à estrada. Tínhamos condores para observar nos cânions que nos aguardavam mais adiante. No entanto, sem que eu percebesse, a sementinha de uma história seguiu comigo. Um ano depois de tudo isso, me deparei com um chamado de seleção para uma coletânea de contos que tinham os desejos como mote principal. Sempre gostei de desafios literários e decidi escrever alguma coisa.



Desse modo, surgiu a ideia para Deserto dos desejos. Troquei o Peru pelo Egito e rabisquei uma história do gênio que realizava desejos mediante um sacrifício e do homem que tinha tudo que vai atrás dele. Mas não fiquei muito contente com o resultado. Os limites de caracteres impostos para participar da coletânea só me permitiram avançar até determinado ponto da trama, no qual eu poderia fechar o conto, mas com uma série de pontas soltas. Acabei não enviando o texto para a seleção.

Mas a ideia seguiu comigo. Até o dia que decidi retomá-la e ver aonde ela queria me levar. O resultado poderá ser conferido em um e-book, que estou revisando atualmente e pretendo lançar muito em breve. De onde surgem as ideias? Ainda não sei. Mas essa história apresenta uma teoria interessante sobre o assunto. Novidades sobre o e-book em breve. ;) 



PS: Sim, a foto de capa do blog foi feita nessa passagem da viagem ao Peru mencionada no texto. ;)

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