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terça-feira, 14 de julho de 2015

Pausa para balanço


Se tem uma coisa que aprendi nos últimos seis meses como autor independente é que não basta publicar um livro, é preciso cuidar da criança. Só que, diferente dos pais que aconselham os filhos a não conversarem com estranhos, nós, escritores, jogamos nossos rebentos no colo de todo desconhecido que cruza o caminho. Depois reclamamos quando os leitores resolvem atirar pedras em nossas crias. Somos complicados assim.

Sem contar que temos mania de começar uma história pela metade. Como nesse texto, que se propõe a oferecer um balanço de tudo relacionado ao e-book "Deserto dos desejos" e tem início com um assunto completamente aleatório. Faz parte do jogo. Se ler não pode ser divertido o exercício todo perde a graça. Além do que, estou aqui para falar de números, um assunto que nem sempre é o preferido de muitas pessoas, mas que são capazes de arrancar sorrisos quando chegam organizados em fileiras. Então, sem mais delongas, vamos a eles:

“Deserto dos desejos” tem pouco mais de dois meses de vida e já conta com 203 leitores com download do e-book comprovado e 1017 seguidores no Facebook, além de cinco reviews bacanas na página de venda na Amazon. Para um e-book de um autor independente, sem grandes publicidades, e com apenas um canal de venda, acredito que esses sejam resultados mais do que satisfatórios. Ao menos, são números que me trouxeram grande alegria.

Como escritor, é um prazer enorme ver meu trabalho chegar às mãos do público. Começo a receber as primeiras reações dos leitores e isso me traz uma estranha satisfação. Como se só agora eu pudesse respirar aliviado e me convencer de que a história funciona. Chegar até aqui deu um trabalho danado, mas os resultados me dão força para seguir em frente. Aprendi muito com esses seis meses de estrada, do processo de produção do e-book à divulgação, das noites solitárias marretando o texto ao contato com velhos amigos dispostos a apostarem nas minhas ideias mais malucas.

Acho que esse é um bom momento para agradecer a todos que acreditaram no projeto e me acompanharam até aqui. Gostaria de agradecer ao Walter Pax, responsável pela extraordinária arte de capa, Elisa Celino, que revisou e deu ótimas ideias para melhorar o texto, Thiago Freitas, pela camaradagem e diagramação do e-book, e as minhas cobaias literárias, Kárin Ventura, Giuline Bastos e Luís Guilherme Resende. Obrigado a todos pela confiança e paciência. Também gostaria de agradecer aos meus amigos que fizeram publicidade gratuita online e off-line, sem pedirem nada em troca, e a todos que curtiram a página do e-book. E, claro, gostaria de agradecer a todos os leitores. Obrigado por me darem uma chance.


Espero estar à altura da expectativa de vocês.



segunda-feira, 1 de junho de 2015

Deserto dos desejos - Primeiro capítulo


– Existe um homem no deserto que concede desejos àqueles que o procuram.

Anton escutou tais palavras pela primeira vez da boca de um mercador de diamantes africano, amigo de seu pai, em uma das muitas festas que o velho empresário gostava de promover para reunir a nata da alta sociedade. Palavras sussurradas ao pé do ouvido com uma seriedade que não admitia qualquer traço de humor. O rapaz virou-se, assustado, e reconheceu o sujeito de olheiras profundas a quem tinha sido apresentado mais cedo.

– Ele vive no uivo do vento e se revela para os viajantes que lhe sacrificam um bode numa noite sem lua – detalhou o mercador de diamantes, sem que lhe fosse pedido. – Seu nome é Ogam e ele aparece montado em um camelo negro com olhos que são pura brasa. Você deve repetir seu nome três vezes na hora que matar o bode para que ele se apresente. Se não fizer isso, ele não lhe dará ouvidos. Ogam, Ogam, Ogam. Três vezes – alertou.

– Por que está me contando isso? – quis saber Anton, confuso. – Eu nem o conheço.

O mercador de diamantes olhou em volta, como se temesse ser ouvido por outras pessoas, e puxou Anton para o canto.

– Ele me avisou que eu o reconheceria quando o visse – revelou num fiapo de voz. – O próximo viajante a visitá-lo. Orientá-lo foi uma das condições que ele impôs para minha fortuna não escapar das minhas mãos. Deus sabe o quanto procurei por você nos últimos sete anos, garoto. Cheguei a pensar que nunca fosse encontrá-lo.

– Mas... como sabe que eu sou o cara certo? – insistiu Anton.

O mercador de diamantes deu de ombros.

– Eu simplesmente sei – respondeu antes de lhe lançar um sorriso misterioso e sumir no meio da multidão.

Anton nunca mais viu o mercador de diamantes e, coincidentemente ou não, partiu numa viagem de férias para o Egito na manhã do dia seguinte. O jovem chegou a pensar na possibilidade de tudo não ter passado de uma piada de seu pai. Exceto que isso lhe parecia improvável. O velho Karl Christian era famoso por sua falta de senso de humor e pelo desinteresse quase completo pelas novidades nas vidas dos filhos. Mais de uma vez esqueceu a data de aniversário de Anton e de seu irmão, Jesse.

– Tempo é dinheiro – repetia o velho Karl, como um disco arranhado, sem paciência para qualquer coisa que não fossem negócios.

Além disso, Anton não acreditava que o mercador de diamantes estivesse brincando. Se lhe perguntassem, provavelmente não saberia dizer o porquê. Provavelmente responderia que era o que seus instintos lhe diziam. Ou que a verdade possuía um som diferente. Seja como for, não importava muito. Anton era o filho caçula de um empresário bilionário e bastava que estalasse os dedos para que seus mínimos desejos fossem atendidos. Por mais curioso que o episódio lhe tivesse deixado, não via motivos para procurar um desconhecido num deserto durante uma noite sem lua. Ou para matar um bode. Tudo que desejava era curtir alguns dias longe de casa, sem ninguém para julgá-lo – e em boa companhia.


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quinta-feira, 30 de abril de 2015

O fim do começo


Demorou um pouco, admito, mas Deserto dos desejos foi finalmente publicado. O e-book encontra-se disponível no site da Amazon e pode ser encontrado no seguinte link: http://goo.gl/UFr14R. Deu um trabalho danado, com muitas idas e vindas entre os colaboradores, e, ainda assim, consegui cumprir o prazo que estabeleci de lançá-lo até o final de abril. Espero que vocês curtam o resultado final.

Claro que o trabalho não para por aqui. Pelo contrário, agora é que começa o verdadeiro desafio. Uma vez que a criança está entregue ao mundo é preciso cuidar para que ela não fique abandonada ao relento, fadada ao esquecimento. Por isso, peço a quem puder que dê aquela forcinha camarada para garantir a sobrevivência do meu rebento. Sim, é chegada a hora de passar o chapéu!

Então, vamos lá! Adquiram seus exemplares, leiam a história e, se puderem, avaliem-na e deixem seus comentários no site da Amazon. Quem se dispor a divulgá-la para os amigos também terá meus agradecimentos eternos! E aproveito para deixar o meu muito obrigado a todos que acreditaram no projeto e me ajudaram a chegar até aqui! Eu não conseguiria nada disso sem vocês! ;)

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Deserto dos desejos - Sneak Peek


O Hiena Sorridente era um bordel de má fama frequentado por soldados, traficantes e lutadores decadentes, além da classe operária em busca de uma rota de fuga. Um mundo fincado nas margens suburbanas de uma África pobre e marcada pela guerra, completamente diferente daquele ao qual Anton estava acostumado. O rapaz disfarçou-se o melhor que pode, com roupas baratas compradas no mercado de rua, na tentativa de não atrair atenção. Não levava nada de valor no corpo, além de um maço amassado de dinheiro local para trocar informações e, quem sabe, conseguir um encontro com a garota que procurava. Ainda assim, levou três dias só para criar coragem e entrar no local.
O ambiente lá dentro era ao mesmo tempo opressivo, com leões-de-chácara mal encarados distribuídos pelos cantos, e melancólico, com sua cota de perdedores incapazes de perceber a degradação que os cercava. Prostitutas entediadas fumavam cigarros baratos e avaliavam clientes pelas roupas e acessórios que usavam. Uma delas chegou a rir dos trajes de Anton. O rapaz não se importou. Não estava ali para impressionar ninguém. Por enquanto, pelo menos. Sentou-se no bar.
– O que vai ser, marinheiro? – perguntou uma senhora com uma verruga enorme no rosto.
– Uísque – respondeu Anton automaticamente.
A senhora levantou a sobrancelha.
– É 20 pratas a dose. Tem certeza que não quer algo mais barato?
Anton jogou uma nota de 20 no balcão, que desapareceu rapidamente, coletada por dedos experientes.
– Uma dose de uísque para o bonitão – disse a bartender, servindo a bebida. – Mais alguma coisa?
– Na verdade, sim – respondeu Anton. – Por acaso, vocês têm uma dançarina chamada Soraia? Me falaram bem dela. Adoraria conhecê-la.
A senhora sorriu, como se tivesse ouvido aquilo um monte de vezes.
– Você vai precisar de mais do que uma dose de uísque para impressionar a Princesa do Nilo, marinheiro – alertou a mulher. – Temos outras meninas mais... acessíveis, se estiver interessado.
– Apenas Soraia me interessa – interrompeu Anton. – Dinheiro não é problema.
De repente, a música ambiente foi cortada e as luzes diminuíram de intensidade.
– Bom, o show já vai começar – disse a bartender, afastando-se para atender outro cliente. – Tente falar com ela após a apresentação. Boa sorte!
Anton virou-se para o palco, curioso. Uma movimentação incomum tomava conta do bordel, com prostitutas sendo dispensadas enquanto os clientes procuravam lugares mais próximos da pista de dança. As conversas diminuíam de intensidade, substituídas pelos sons de cadeiras arrastadas e passos apressados. Por um breve momento, o bordel mergulhou no mais profundo silêncio, deixando o ambiente cheio de uma expectativa tensa e abafada.
Então, uma luz acendeu-se na cabine no canto direito do palco, onde o DJ, um negro de óculos escuros enormes, cabelo black power e tatuagens tribais nos braços musculosos assumiu o microfone.
– Dizem que não existe nada perfeito nesse mundo de dores e tormentas – começou o DJ, com voz de veludo. – Homens sábios, mais inteligentes do que eu ou qualquer cão sarnento aí embaixo, disseram isso – continuou, com a batida suave de uma música se iniciando ao fundo. – Pois eu digo que eles não passam de tolos! Pobres infelizes que nunca tiveram a chance de conhecer Soraia, a mulher mais bonita da Terra!
Alguns clientes levantaram, batendo palmas. Outros, pediram para abrir a cortina de uma vez, ansiosos pelo show que estava para começar. A música aumentou de volume. Anton reconheceu a melodia. Why don’t you do right, de Peggy Lee, numa versão mais provocativa e atual. Deu um gole no uísque e fez uma careta. Falsificado. Era de se esperar.
– Uma salva de palmas para a Princesa do Nilo – pediu o DJ.
O público obedeceu com fervor quase religioso. Os clientes levantaram-se, bloqueando a visão de Anton. O rapaz fez o mesmo. Precisava achar um lugar melhor. As luzes diminuíram mais um pouco e as cortinas abriram-se lentamente. Uma sombra sinuosa destacou-se na escuridão, máquinas de fumaça foram acionadas. Os homens assobiavam e batiam palmas. Anton precisou se apertar entre dois engravatados suados para chegar perto do palco. Não esperava grandes coisas do show. Não num lugar como aquele. Então, um holofote se acendeu e revelou Soraia.
O copo de uísque que Anton tomava tanto cuidado para segurar no meio da balbúrdia subitamente escorregou de seus dedos e caiu no chão, sem que ele sequer percebesse. Seu queixo acompanhou o movimento e só não fez companhia ao copo por estar grudado ao rosto. Alguns clientes ainda gritavam, empolgados, mas eram uma minoria. A maior parte dos homens estava atônita demais para reagir, contentes em beber com os olhos as formas perfeitas da Princesa do Nilo.
Parada de costas para o público, em um vestido de lantejoulas negras apertado, uma das pernas levemente arqueada para o lado esquerdo, realçando as curvas generosas de seu quadril, estava Soraia. Ela virou o rosto levemente, os cabelos negros cortados em estilo Chanel a esconderem parcialmente a face, revelando apenas o nariz arrebitado e olhos verdes de uma gata selvagem.
You had plenty money 1922
You let other women make a fool of you
A voz ecoava nas caixas de som enquanto Soraia encarava seu público, o fantasma de um sorriso a passar pelos lábios vermelhos. Ela caminhou com lentidão, a cintura quebrando de um lado para o outro, as mãos escondidas por luvas brancas esguias que ela tirava sem nenhuma pressa.
– Mostra os peitos, gatinha – provocou um gordo asqueroso.
Why don’t you do right like some other men do?
Soraia chicoteou o rosto do infeliz com uma das luvas, arrancando aplausos do público e fazendo Anton sorrir.
Get out of here and get me some money too
O rapaz não conseguia tirar os olhos da mulher, de seus peitos majestosos, de sua cintura sinuosa, de suas pernas roliças. Sua vontade era subir no palco, arrancar sua calcinha com os dentes e possuí-la ali mesmo, para que todos vissem. E, pelo jeito, não era o único. Um leão-de-chácara experiente conteve um fã mais excitado que claramente queria agarrá-la. Ele foi derrubado antes de sequer encostar na princesa, que continuou a dançar como se nada tivesse acontecido.
O vestido se foi com um único movimento, revelando a lingerie de renda negra e transparente. Os homens uivaram ao seu redor. As mãos levantadas no ar com dólares, euros e dinheiro local presos entre os dedos, todos loucos pela chance de tocarem sua pele macia e morena. Mas ela se fazia de difícil. Não se contentava com ninharias. Não era uma dançarina qualquer, que se deixava ser tocada e manipulada como mercadoria. Ela mantinha distância e deixava o público louco com isso. Inclusive Anton, que se misturava com a plebe como se fosse um deles, incapaz de resistir aos impulsos mais básicos. Ela realmente merecia o título de Princesa do Nilo.
Quando o show acabou, Anton tentou se aproximar da dançarina, mas um leão-de-chácara bloqueou seu caminho.
– Onde o amigo pensa que vai? – quis saber o grandalhão.
– Queria dar uma palavrinha com a princesa – explicou o rapaz.
– Você é novo por aqui. Soraia só atende clientes novos às quartas. Volte semana que vem – avisou o leão-de-chácara.
– Mas... eu tenho dinheiro – protestou Anton.
– A princesa não é qualquer uma que se consegue num estalar de dedos, amigo – advertiu o brutamontes.
– Olha, você me parece um cara razoável, tenho certeza que podemos chegar a um acordo – disse Anton, retirando o maço de dinheiro do bolso.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa, o leão-de-chácara tomou as notas de sua mão e as contou sem a menor cerimônia. Havia o equivalente a cinco mil dólares ali. O segurança sorriu, guardando as notas no próprio bolso.
– O amigo vai poder conversar com a princesa na quarta que vem – garantiu. – Só que vai precisar de 50 mil, caso queira fazer algo mais do que conversar. Estamos entendidos?
– 50 mil? – perguntou Anton, abismado com o preço. Nem as prostitutas de luxo com as quais estava acostumado cobravam uma quantia assim.
– É pegar ou largar. Você decide – concluiu o brutamontes, lhe dando as costas.

Soraia saiu pela porta dos fundos, abraçada com um general cheio de patentes. Anton suspirou. Teria que esperar mais uma semana para conseguir conversar com a moça. E mais duas para reencontrar Ogam e enfim realizar seu desejo.


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segunda-feira, 6 de abril de 2015

Deserto dos desejos – Updates!


Habemus capa!!! Passando só para avisar que a arte de capa do e-book Deserto dos desejos está pronta e ficou fantástica! A produção da obra continua a todo vapor. Já passamos da fase de revisão e o trabalho segue essa semana para diagramação. Se tudo der certo, acredito que, até o fim do mês, teremos um e-book no ar! =)

terça-feira, 24 de março de 2015

Deserto dos desejos - A sinopse




"Existe um homem no deserto que concede desejos àqueles que o procuram." A frase sussurrada por um mercador de diamantes africano despertou a curiosidade de Anton. Filho do bilionário Karl Christian, o jovem sempre teve tudo que o dinheiro pode comprar. Viagens, festas, carros, mulheres. Basta estalar os dedos para que suas  minímas vontades sejam feitas. Ainda assim, quando recebe o mesmo aviso de fontes diferentes numa visita ao Egito, Anton sente-se tentado a procurar o gênio misterioso. Mas qual seria o desejo do homem que tem tudo? E o que seria necessário para realizá-lo? Descubra em Deserto dos desejos, de Pablo Amaral Rebello. 

Em breve!

segunda-feira, 16 de março de 2015

Com uma pequena ajuda dos amigos


Ser escritor não é fácil. Ou mesmo prazeroso. Sofremos mais à procura da frase perfeita para concluir um parágrafo ou colocar na boca de um personagem do que seria humanamente aceitável. Terminamos um trabalho que consideramos genial em um dia e que consideramos abismal no seguinte. A curiosidade e a insegurança andam de mãos dadas no nosso código genético. Nunca sabemos se o público vai gostar ou odiar o que escrevemos. Mesmo assim, insistimos em dar a cara a tapa. Definitivamente, não é uma atividade para os fracos.

Além disso, não nos fazemos sozinhos. Dependemos imensamente dos leitores para que nossas histórias ganhem alguma ressonância, por menor que seja. E da crítica também. Prefiro mil vezes ter minhas criações despedaças pelos tiros de canhões dos opositores do que suportar o silêncio sepulcral de um público desinteressado. Falem mal, mas falem de mim. Qualquer coisa que me leve a me arriscar novamente nessa seara ingrata e cruel que é a literatura. 


A própria produção de um livro (ou e-book, nos dias de hoje) não é um trabalho solitário, como pode parecer à primeira vista. Claro, existe toda a parte de escrever a história e desenvolver personagens, cenários e temas numa trama capaz de envolver o leitor. E isso não é pouca coisa, concordo. O escritor merece créditos por tirar da própria imaginação um conto ou livro capaz de encantar ou aterrorizar o público interessado. Mas, uma vez que a história esteja pronta, como fazer para publicá-la?

Esse é o pesadelo de todo escritor iniciante. E não olhem para mim em busca de respostas. Também sou um aprendiz nesse negócio. Tenho uns poucos contos publicados em uma ou outra coletânea e olhe lá! Mas, como disse lá no começo do texto, escritor é uma criatura que adora dar a cara a tapa. Estamos sempre oferecendo a outra face para ver se alguma coisa pega. E aqui estou, comandando uma equipe para publicar um e-book.


Sim, caros leitores, um livro ou e-book não se faz sozinho. Para Deserto dos desejos, reuni uma equipe de cinco pessoas: um artista para a capa, uma revisora, um diagramador e duas leitoras beta. Ainda estou no meio desse processo e pode ser que outras pessoas acabem participando da produção. De todo modo, tem sido uma experiência revigorante. A colaboração de todos os envolvidos com certeza vai resultar em um produto final muito mais bacana do que eu seria capaz de fazer sozinho. 


Como diriam os BeatlesI get by with a little help from my friends... ;)

sexta-feira, 6 de março de 2015

Ideias no deserto



De onde surgem as ideias?

De certa forma, elas nos acompanham desde a concepção até o dia em que morremos. Passamos a existir no momento em que as pessoas tomam conhecimento da nossa presença. O mesmo ocorre com as ideias. Elas surgem de um momento para o outro e tudo muda repentinamente. Uma alavanca gira e os pensamentos correm desenfreados, sem parar. Porque esse é um detalhe interessante sobre as ideias. Elas nunca chegam desacompanhadas.



Em maio de 2013, realizei um sonho muito antigo. Uma ideia que herdei de meu pai na minha adolescência. Fazer um mochilão para conhecer Machu Picchu, no Peru. Após anos tentando convencer alguém a me acompanhar, acabei embarcando nessa sozinho. E foi uma das melhores e mais intensas experiências pela qual já passei. Entreguei meu destino para a estrada e a estrada me mostrou os caminhos, me apresentou as pessoas e abriu meus olhos para um mundo com o qual eu só sonhava até então.

Minha viagem também não se restringiu à cidade sagrada dos Incas. Ela foi só o ponto de partida. Entre os lugares que me propus a conhecer estava o Colca del Canyon, próximo a Arequipa, onde o voo dos condores atraem milhares de pessoas por ano. Após Machu Picchu, essa era a minha próxima parada. Levaria três dias e exigiria três viagens longas de ônibus para chegar lá. Talvez isso desestimulasse outras pessoas, mas, no meu caso, não vi nenhum problema. Eu estava apaixonado pela liberdade que só os mochileiros conhecem.



No meio do caminho, o ônibus fez uma de suas muitas paradas em uma paisagem desolada, pontuada por montanhas distantes e um deserto a perder de vista. Era o ponto mais alto da jornada, a 4.910 metros acima do nível do mar. Ali, encontravam-se uma série de pequenas pirâmides de pedras, montadas por viajantes anteriores. O guia nos explicou que as pedras representavam os desejos de outros peregrinos, sonhos e esperanças empilhados em corredores improvisados pela planície. 

Ao caminhar por aquela catedral a céu aberto, envolvido pelo silêncio do deserto, impressionado com a beleza natural de sua vastidão, deixei meus pensamentos correrem soltos. Outros turistas fizeram suas mini pirâmides. Deixaram seus desejos ali. Os meus eu joguei ao ar. Não preciso de representações físicas para segurá-los. E me perguntei: será dessa maneira que um lugar se torna sagrado?

Foi um momento especial, que durou pouco. Logo, estávamos de volta à estrada. Tínhamos condores para observar nos cânions que nos aguardavam mais adiante. No entanto, sem que eu percebesse, a sementinha de uma história seguiu comigo. Um ano depois de tudo isso, me deparei com um chamado de seleção para uma coletânea de contos que tinham os desejos como mote principal. Sempre gostei de desafios literários e decidi escrever alguma coisa.



Desse modo, surgiu a ideia para Deserto dos desejos. Troquei o Peru pelo Egito e rabisquei uma história do gênio que realizava desejos mediante um sacrifício e do homem que tinha tudo que vai atrás dele. Mas não fiquei muito contente com o resultado. Os limites de caracteres impostos para participar da coletânea só me permitiram avançar até determinado ponto da trama, no qual eu poderia fechar o conto, mas com uma série de pontas soltas. Acabei não enviando o texto para a seleção.

Mas a ideia seguiu comigo. Até o dia que decidi retomá-la e ver aonde ela queria me levar. O resultado poderá ser conferido em um e-book, que estou revisando atualmente e pretendo lançar muito em breve. De onde surgem as ideias? Ainda não sei. Mas essa história apresenta uma teoria interessante sobre o assunto. Novidades sobre o e-book em breve. ;) 



PS: Sim, a foto de capa do blog foi feita nessa passagem da viagem ao Peru mencionada no texto. ;)

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Por que escrevo terror



Às vezes, me perguntam por que não escrevo histórias mais alegres, onde o herói fica com a mocinha e o vilão é punido no final. Ou por que não tento fazer literatura de verdade. Essa é outra pergunta que me persegue. Imagino que seja assim com todo escritor antes de ficar conhecido. Um aviso aos navegantes. Como se tivéssemos que preencher um molde a partir do momento em que o grande público tomasse conhecimento de nossas obras e não pudéssemos mais sair dele. O que, na minha cabeça, já daria um ótimo enredo para uma história de arrepiar os cabelos.

Por que escrevo histórias de terror? Bom, não é exatamente uma escolha consciente. É algo que me vem naturalmente. Gosto de escrever sobre coisas que me perturbam. Gosto de explorar meus medos, inseguranças e pesadelos. Ou os medos, inseguranças e pesadelos dos outros. Acredito que, ao fazer isso, esses fantasmas perdem o poder que tinham de me assustar. Escrevo para exorcizar meus demônios. E não tem jeito fácil de fazer isso. A jornada invariavelmente é aterrorizante. O único alento que carrego é a crença da necessidade de encarar as trevas para poder encontrar a luz e a paz que se encontram além dela. A noite sempre é mais escura antes do amanhecer.

Outra fonte de inspiração vem da própria realidade. Tenho plena convicção de que não existe nada mais assustador do que o mundo em que vivemos. Basta navegar cinco minutos na internet. Somos assaltados diariamente pela violência dos grandes centros urbanos, das ameaças de atentados terroristas, dos preconceitos elitistas e raciais, da turma do politicamente correto, das brigas por bandeiras políticas, pelo pessoal da vigilância do peso, pela ditadura da juventude, pela velocidade da informação. São tantas pequenas violências que as pessoas ficam anestesiadas, nada mais as abala, nada mais as comove, nada mais as impressiona.



Diante de tudo isso, é preciso ter uma válvula de escape que nos ofereça uma alternativa a esse turbilhão de loucuras. Mesmo que essa alternativa seja um universo repleto de monstros e seres repugnantes, que vão fazer o leitor querer dormir de luzes acesas e agradecer por não estar na pele de personagem X ou Y. Um dragão capaz de fazer um homem em pedaços com uma mordida nunca será mais assustador do que um ladrão louco de crack com uma arma apontada para a sua cara. A ameaça de morte é igual nos dois casos. Mas na ficção é muito mais fácil de encará-la sem se borrar todo. 

Acredito que a literatura de entretenimento funciona melhor quando reflete de forma distorcida a nossa  própria realidade. Por isso gosto de cenários quase sempre contemporâneos e personagens que estão longe de serem perfeitos e, muitas vezes, não são nem mesmo carismáticos. Gosto de deixar rótulos como herói ou vilão na prateleira, para serem usados de acordo com a situação. Minhas histórias se passam invariavelmente em áreas cinzentas, onde os mocinhos trocam de lugar com bandidos do mesmo modo que as prostitutas assumem o lugar de princesas. É importante mostrar ao leitor que os personagens podem acertar ou errar em igual medida e que ninguém é inteiramente inocente. É necessário que ele pense no quanto tudo aquilo parece real, de modo a se entregar mais facilmente para a narrativa.

Porque o que eu realmente gosto de fazer é quebrar com expectativas. É aí que, na minha opinião, reside a genialidade das boas ficções. É para isso que trabalho. Para escrever histórias que prendam a atenção, tenham uma dose adequada de reviravoltas e seja habitada por personagens marcantes, difíceis de esquecer. É claro que nem sempre terei sucesso. Mas eu tento. Em meio a um universo repleto de lobisomens, vampiros e demônios, tento ser um pouco original e arrancar aquele olhar de espanto com a virada de uma página. Se o leitor ficar com uma pulga atrás da orelha ao final da leitura, considero o meu trabalho feito.

É por isso que escrevo terror.

Bons pesadelos...